
Bipolar - O melancólico e belo adeus das Bibas From Vizcaya
Por Ricardo Oliveros
Se passaram quatro anos após o lançamento do 1° e escrachado album "The Greatest Mix Collection" , e dois anos do dançante "Um Beijo e me liga!". Agora Las Bibas From Vizcaya lançam o 3° e último album : "Bipolar", distante no tempo e no compasso dos seus antecessores , onde o humor rasgado do bate-cabelo é trocado por madeixas naturais daquelas que caem em câmera lenta em propagandas de xampu. Mas não se engane, não é tão superficial assim.
“Apesar de toda palhaçada e humor sempre quis levar através das Bibas informação. Descobri cedo que nem todos são como nós que diferenciamos o joio do trigo nas escolhas. A forma de levar algo cool, fino e ao mesmo tempo underground para um monte de miguxa era através da comédia, assim elas tomariam uma dose do remédio sem notar”, revela o produtor e DJ George M., o nome por detrás do seu alterego para lá de fervido.
Bipolar é o canto do cisne de Marisa Touch Fine e Dolores de Las Dores, personagens icônicas de uma centena de podcasts e fotologs tombados pela censura norte-americana, como explica o produtor:
“O 1° cd veio o escracho, no segundo misturei o riso e algumas musicas já sérias e melodicamente trabalhadas, mas agora no terceiro queria mudar tudo e acabar com LAS BIBAS como elas merecem. No topo, ‘por cima da carne seca’ como dizemos lá no Recife. A passagem parece brusca, mas foi bem gradual”.
O que o George quer dizer com passagem brusca, é na verdade a surpresa que causa o Bipolar. Tudo começa na capa, com ar Hellraiser, com make absurdo do Theo Carias, foto da Debby Gram e arte do Macali. Nesta época em que imagens são importantes, George sabe muito bem reunir um time de primeira para indicar que a mudança é verdadeira. Lá se foi o tempo dos poás, das roupas com brilho, das perucas loiras. Ao invés de soltar a franga, ele investe em domar seus demônios.
Mas imagem sem conteúdo é nada, como dizia uma propaganda de refrigerante. A mistura de referências é o forte do CD, Pet Shop Boys, Fisherspooner, house e suas vertentes, electro das antigas, synthpop, Goldfrapp, e divas como La Roux e Bilie Ray Martin, tudo muito misturado como convém a música eletrônica atual, com certo ar nostálgico de fundo.
A estrutura do Bipolar é como um roteiro de um show ou história que tem começo, meio e fim. Tem o poder de evocar imagens mais silenciosas e revelam o lado escuro das Bibas. Elas mergulham em sentimentos menos festivos, menos dançantes, mas sem esquecer dos desejos que as moviam.
A introdução do CD começa com baixos bpms, vocais da Julie Hicklin, sua parceira no projeto inglês Ubertronic, arranjos com violinos, climão dark sexy. Funciona como preparação para o que vamos ouvir.
Broken Heart tem voz sussurrada e efeitos do tipo vento espacial, e diz muito da diferença sobre o que eu disse entre o bate-cabelo e a propaganda de xampu. A câmera lenta aqui domina a cena, dá até para imaginar no show.
Spark lembra de longe o começo do Fisherspooner com aquelas melodias que grudam no ouvido, só que numa versão menos alegrinha. Tem um quê de emoção triste de fundo que vai dominando até o silêncio final.
No Place e Knife tem a vibe bem Pet Shop Boys com sintetizadores e são um pouco mais dançantes. Supercandidatas a serem remixadas para pista. O refrão de Knife é muito bom para show.
Ritual of Ascencion é onde a percussão acontece. Parece que vamos retornar ao Tribal, ao bate-cabelo, mas vem logo a surpresa e os vocais deixam isso de lado. Pena que é curtinha! Poderia ter evoluído mais e deixar a gente rebolar um pouco, que não faz mal a ninguém! Serve como introdução para o clima sexy que vai tomar conta desta parte do álbum.
Empty traz os vocais da Julie Hicklin de volta. Electro sexy na veia, mas misturado com outras influências dos anos 80. A voz da Julie quando repete a palavra Empty lembra uma Grace Jones atualizada.
My Bed continua no mesmo tom, agora com os vocais do Johnny Hooker, que faz parte da nova cena musical do Recife e é fã declarado das Bibas...de Vizcaya, claro!
Também da cena lá de cima, o muso Daniel Peixoto canta Olhos Castanhos com backing vocal do tenor Andréa Libardi. Eles capricham nos vocais insinuantes e dramáticos. Esta música vai ganhar outra versão no próximo álbum do Daniel.
Bats é a faixa final do clima sensual, que começa a revelar o clima mais dark do disco. Aqui começa a despedida das Bibas. O clima de sedução acabou e a tristeza começa a tomar conta da cena.
Nightmare o clima vai caminhando para o dark, porém não é pesado, nem dramático, indo para o lírico e melancólico. Assim como, Anesthesia que começa mansinha como um minimal e de repente ganha força com arranjo elaborado com recursos melódicos hipnotizantes cheios de efeitos sonoros. Merece remixar para pista já!
O álbum termina com Requien For Me, a música despedida das Bibas. Como lembrou o George: “aqui as Bibas põem um ponto final na sua história e voltam a ser apenas algo virtual, sem obrigações, datas ou prazos. Agora é a vez do criador aparecer. As criaturas saem de cena no auge”.
É como se fosse a trilha sonora de um filme. Daqueles que as personagens vão andando sozinhas pela cidade molhada e câmera vai subindo, subindo, e revela a melancolia permanente das grandes cidades, Dançaria horas esta música.
Despedida triste como todo adeus, mas necessária. Vida longa para George M. que se antes já tinha revelado talento de DJ, agora dá plena vazão ao seu lado produtor, que deixou as concessões mais fáceis de lado.
*Bipolar sairá a luz em edição deluxe dupla em 29 de janeiro de 2011 no Itunes & Amazon.
*MixMag Brasil critica Bipolar (Leia aqui)
Torcendo sempre por George M e Las Bibas. Sucesso sempre!!! e beijos é claro.
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